A arte é um retrato da natureza, diziam alguns filósofos, que obviamente nunca viram filmes americanos.
Dou por mim a pensar nas patologias representadas nos filmes e em como as suas prevalências estão distorcidas. São raras doenças comuns como: AVCs (ao contrário do enfarte do miocárdio, uma vez que o coração é muito cinematográfico), carcinomas do cólon, infecções urinárias ou artroses.
Acima de tudo, o tipo de filme determina a existência de certos tipos de doença.
Nas comédias são clássicas as diarreias e flatulência (mais frequentemente resultantes de intoxicações alimentares ou laxantes que põem nas bebidas das vítimas), as constipações e as fracturas inocentes sempre imobilizadas com enormes talas gessadas.
Doenças benignas das quais é fácil rir, portanto.
Os dramas escolhem as leucemias e a tuberculose como doenças de eleição: as protagonistas são magras e de aspecto vulnerável e a evolução pode ser rapidamente fatal (óptimo para o ritmo do argumento). Para desfechos dramáticos, nada como um enfarte do miocárdio fatal ou uma hipoglicémia consequente de uma diabetes tipo I (insulinodependente) para acabar com a vida da personagem normalmente adorada durante a trama.
Os filmes de terror costumam parasitar vírus causadores de febres hemorrágicas, o mais célebre, o ébola.
Mas o que eu gosto mesmo é quando me conseguem fazer rir mesmo quando a personagem principal tem cancro, é quando os dramas não necessitam de doenças fatais para ganharem força, quando as personagens e envelhecem e ganham artroses e varizes e até uns quilos a mais.
Esse é o cinema que procuro.