Saturday, November 17, 2007

Confesso que sempre achei melodramática a tão portuguesa conversa acerca da palavra única em Portugal - Saudade.

Primeiro, porque acho que é uma falsa questão. Se falarmos de "broa" a um estrangeiro, mesmo explicando que é um pão de milho, é inevitável a cara de supresa quando se depara com tão estranho produto. Broa é uma palavra única na medida em que exprime uma realidade que mais nenhuma palavra exprime.

Depois, porque não estou segura de que não existam palavras equivalentes. Aliás, Milan Kundera, num romance chamado A Ignorância, aproxima a palavra saudade das nostalgias de diferentes línguas (nostalgia, do grego, é a dor de quem não pode regressar). Inclui homesickness, heimweb e uma curiosa palavra catalã enyorar (do latim ignorare). Esta última unificará todos estes sentimentos nostálgicos, como o sofrimento de quem ignora, segundo Kundera.

E diz também Miguel Falabela "Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia."

Estas pessoas que pensam (mal ou bem) sobre palavras, acreditam nisto. Eu sempre tive a sensação que, no fundo, não sabia muito bem. Quanto ao que se passa cá dentro eu diria que, quando tenho saudades: sinto falta das emoções que estar uma pessoa (como ela era no momento que memorizei) me trazia ou das sensações que algo material que já não existe me transmitia.
Representa isto para todos os outros portugueses, aqueles cujos olhos brilham e as vozes se excitam quando falam de saudade? Penso que não.
No entanto, no outro dia apeteceu ter uma resposta para esta questão da saudade.
Quando deitávamos para o lixo uma maçã podre do flatmate hipersocial (fantasma para os amigos), a Conchi (flatmate espanhola) comentou: Achó que nã vaii ter saudadex da maçã. Depois de muito me rir tentei explicar que não se pode ter saudades de uma maçã específica.
Ela perguntou: Porquê?

1 comment:

Shadow said...

caramba! k saudades de te ler.