Wednesday, October 31, 2007
É inacreditável aquilo a que um ponto de interrogação nos dá acesso.
As histórias de infância do meu pai, em que me conta o mundo "em que os deveres se faziam a candeia de azeite", em que ia para a escola em bragança quase como clandestino em carrinhas alugadas e usadas durante a noite, em que as injecções do meu avô custavam 1000 contos de rei cada e renda da casa do meu pai 600. A doçura que lhe sai no desabafo da tristeza que sentiu por se ver sozinho aos 11 anos, na cidade pela primeira vez, sem saber como comprar o material escolar, para o qual não tinha dinheiro.
As doenças que surgem no trabalho, o nascimento dos filhos, os acidentes de percurso de uma vida, em que a determinada altura não se sentiu "um pé durante 24h e o outro durante 48h", em que o bebé não tinha leite para mamar, em que se conclui "a vida prepara-vos dores sérias, preparem-se".
As rotinas, essas descritas com detalhe rigoroso, de quem sabe a importância das pequenas coisas. As horas a que se vai dormir, o chá de ervas que acompanha esta hora, a roupa que se deixa de lavar a esta hora porque cansaço da idade pesa, o Cerelac que se dissolve criteriosamente (sem um gromo!). O ritmo das refeições, a recente falta de apetite, o capricho.
O programa de rádio àquela hora, a caminhada pela horta, a comida para os animais. Os dias de festa, a roupa de domingo (sem xailes, que senão pareço uma velha).
Friday, July 20, 2007

Sam: I still feel at home in my house.
Thursday, July 19, 2007
Extremely loud and incredibly close
Wednesday, July 11, 2007
Todas as palavras me parecem diminutas perante a própria vida.
Como esperar que nas próximas 5 linhas possa descrever alguém? a cumplicidade de uma amizade não se regista em palavras. o amor não se resume a ridículas cartas. a dor não cabe em três letras.
No meio de tudo isto apenas damos pistas e esperamos que a vivência da outra pessoa ajude a descodificar o que acabamos de dizer.
Ela disse-me: ele tinha olhar mais culpado que eu já vi. Eu li: a imagem de todos os olhares culpados que já vi e escolhi um. Seguramente é completamente diferente do original.
A verdade reside dentro de cada um de nós, resta-nos a verosimilhança para representar o que sucedeu nesse passado distorcido pela nossa memória.
Ainda assim desejo pôr em caracteres aquilo que tenho guardado cá dentro.
Ter este desejo e não acreditar no poder das palavras é uma incoerência e eu sei, mas o desejo é irracional.
Quero aproximar o meu mar de sentimentos, emoções, sonhos, crenças implícitas da minha consciência racional. Segundo as filosofias as orientais esta racionalização é um exercício inútil, não representa um engrandecimento da autoconsciência.
Mas já o austríaco Wittgenstein diz, por sua vez, "o significado define-se pelo uso".
E eu, eu quero continuar a procurar aquilo que sou.
Não interessa se me encontro, interessa-me que me procuro.
Thursday, June 21, 2007
no aeroporto
E depois estão as pessoas que como eu abandonaram uma vida. Que não era uma vida perfeita, sim de facto uma boa vida, mas preenchida com tudo que tem uma vida: a dor, a amizade, o ciúme, a alegria, a melancolia, o stress (raro, mas não inexistente).
Assim, agora deixamos tudo para trás.
De repente, o quarto vazio: as paredes brancas, a secretária sem papéis, as pessoas que não vão estar lá amanhã, que se calhar nunca mais vou ver, a mensagem para o café ou para a festa que não vou receber, as palavras novas que vão deixar de surgir enquanto temos conversas banais, as tuas palavras doces que não vou ouvir.
E perder tudo isto dói… Claro que esta não é a dor corrosiva de não o ter vivido, é uma dor feliz, que se permite a lágrimas fáceis.
Por isso não consigo parar de chorar.
Tenho uma imensa saudade de tudo o que tive até há um dia atrás. Porque é para nunca mais.
Dói este nunca mais, é sobretudo ele que dói.
Tuesday, June 19, 2007
goodbye
See them rattle & boo, see them shake, see them loom.
See him fashion a cap from a page of Camus;
see him navigate deftly this side of the blue.
And the rest of our lives will the moments accrue
when the shape of their goneness will flare up anew.
hen we do what we have to do (re - loo - re -loo),
which is all you can do on this side of the blue. "
Joanna Newson, this side of the blue
Monday, June 11, 2007
Camus e Rufus Wainwright
É claro que gostava da minha mãe, mas isso nada queria dizer. Todos os seres saudáveis tinham, em certa ocasiões, desejado, mais ou menos, a morte das pessoas que amavam.
(...)
a minha natureza era feita de tal modo que as minhas necessidades físicas pertubavam frequentemente os meus sentimentos. No dia do enterro, estava muito cansado e com muito sono, de forma que não dei lá muito bem pelo que se passou.
O Estrangeiro, Albert Camus
Cigarettes and chocolate milk, these are just a couple of my cravings
(...)
Still there's not a show on my back, holes, or a friendly intervention
I'm just a little bit heiress, a little bit Irish,
A little bit Tower of Pisa whenever I see ya
So please be kind if I'm a mess
Cigarettes and chocolate milk, cigarettes and chocolate milk
Rufus Wainwright
don't tell anyone that i ate 100g of milka white chocolate with lemon flavour!